Porque a vida anda assim

Porque a vida anda assim

Ontem, enquanto dava aula e escrevia um texto com minha aluna, me lembrei do quanto sempre gostei de pintar paredes, de dar à minha casa cores que eu mesma escolhi. Meu apartamento não é só moradia minha. Nele fazem morada meus sonhos antigos que já viraram memória, meus planos, os abraços que dou no meu filho, flores que fotografo na rua. Na minha casa também vivem medos, anseios, sonhos que ainda não realizei. Vivem receitas de bolo, notas musicais, tapetes coloridos, umas esculturas em barro. Quando olho em volta, vejo minha alma projetada nas paredes, nos quadros coloridos e prateleiras abarrotadas de brinquedos e bibelôs. Da minha alma veio a vontade de empilhar livros que já li mas mantenho comigo pra não esquecer das escritoras que me inspiram. E isto tudo se traduz em cores. Cores de todos os gostos, todas as combinações. Cores de fundo que escolhi, mas que acabaram sendo ofuscadas pelas cores dos outros, pelas cores dos meus idolos, dos meus sonhos, das minhas memórias. Minha morada é colorida. Mais colorida do que eu imaginei e mesmo planejei. Porque a vida anda assim. Pessoas, planos, sonhos… vão aparecendo, vão entrando, vão ficando. Às vezes em forma de memória às vezes em forma de futuro. Me dou conta que eu sou tudo isso. Olho em volta e me vejo nas paredes. E me pergunto: qual a serventia de tudo aquilo que não reflito e mantenho quieto escondido aqui dentro de mim?