Quarenta e seis anos

Quarenta e seis anos

Passados dois dias do meu aniversário, ainda não decidi se rio ou choro deste último ciclo que se encerrou. Meu último ano foi uma ironia. A pandemia me forçou uma revisita da minha vida- tortuosa e necessária- para a qual eu vinha treinando já fazia uns bons anos. Me faltava coragem de fazê-la. A clausura me ajudou. Alcancei conquistas internas importantíssimas pra mim. Traduzi sentimentos, organizei idéias, refiz caminhos. Me dei conta que boa parte da vida que levei nos últimos anos não se conecta comigo, com minha energia, com minhas necessidades. Tive de assumir que tenho fugido de decisões por medo e insegurança de tomá-las. Enxerguei que eu não estou à frente naquela cruel lista de prioridades que a gente precisa estabelecer (mesmo que implicitamente) na nossa vida. O que é que me dá prazer? Quanto de energia eu tenho despendido para sentir este prazer? Além das coisinhas da vida que me guiam nos meus dias, que planos e projetos e sonhos eu tenho comigo? Tenho alguém me dando a mão na minha caminhada? Não é uma lista longa, mas ela demandou atenção. Completei meus 46 anos mais cansada, mais triste e mais solitária do que costumo ser. Me senti mais triste por perceber que amadureci quase nada nos últimos anos. Solitária porque não tive oportunidade de pedir colo e dois dedos de prosa pras amigas (o confinamento me impediu). Mas não vejo como um problema. A vida é ciclo, a gente tem altos e baixos. Os baixos são aqueles momentos de descoberta que nos guiam para os ciclos de alta. Se sentir mais triste e solitária que o normal também inspira a gente. E o que, na vida, vale mais a pena do que se sentir inspirado?? 🍀🍀