Indescritível subjetividade

Indescritível subjetividade

A criação de um filho é uma sucessão de fases. Tem uns tempos muito rápidos na primeira infância. No começo a gente tem que se dedicar intensa e exaustivamente a alimentar e cuidar de um ser humano que depende da gente pra tudo. Tem uma fase prática de ensinar nomes, formas e consistência de coisas. Depois a fase de tentar encaixar na realidade as fantasias mágicas que eles criam. Então a gente partilha maneiras de se cumprimentar, higiene, alimentação. Depois, quando começa a interação mais contundente com o mundo, a gente começa a focar em questões mais subjetivas. Ensinar a passagem do tempo, falar da relação que mantemos com pessoas que amamos e que não amamos. Respeito, responsabilidade, a relação entre querer e poder. Aí, quanto mais eles crescem, mais a gente vai se desprendendo da responsabilidade de ensinar. Porque já estão no mesmo pé que a gente. Já têm discernimento, já conhecem coisas além daquelas que ensinamos. Ver um filho tomando forma e personalidade adulta tem sido uma experiência tão grata para mim… Me sinto livre para tocar minha vida sem precisar pensar o tempo todo “meu deus, mas como vou fazer isso se tem meu filho dependendo de mim?”. Quando o filho vai crescendo, nos desvinculamos das relações de dependência e partimos para as trocas e o convívio. Hoje foi, para mim, um dia simbólico nesta relação mãe-filho. Saí para ensinar algo prático e, ao mesmo tempo, me vi ali nas subjetividades dele. Primeiro dia indo de bike para a escola. E eu junto dele ensinando o caminho, dando dicas de como usar a ciclovia. Ele, como sempre, calmo. Eu, como sempre, tensa e estressada e com medo e com pressa e…e…e…Não é apenas a economia da van, nem a economia de tempo, nem o vento na cara, nem estar fora do trânsito. Sempre sonhei -invasiva que sou- isto para ele. Uma coisa que sonhei para ele e que, por sorte, ele assimilou como bom e disse “também quero”. E sinto como se tivesse cumprindo mais uma etapa. Cheia de objetividades no trajeto casa-escola, mas de uma indescritível subjetividade pelos vínculos com o meu “way of live”.