Dando uma esticada à sombra hoje, na metade do meu trajeto matinal de bicicleta, observei meus pés. Pensei “meu deus, tenho idade para usar meias pretas com corações vermelhos?” Ri em pensamento. Além das meias eu vestia short curto e usava um tenis encardido. Me diverti pensando nas roupas e seus pré-requisitos. Hoje se diz Dress code. “Deus acuda!” seria um nome mais adequado na minha perspectiva. Imediatamente lembrei do sofrimento que era, para mim, passar pelos preparativos para ir aos bailes de reveillon na adolescência. Como eu não gostava daquilo… Loja de tecido, costureira, medidas, modelos de peças, todo mundo dando mil idéias. Lembro que teve um ano em que fui ao baile com uma bermuda de cetim perolado. A camisa num tecido translúcido. Colete prateado. Nos pés uma botinha branca de bico quadrado. Me lembro que aquele era o primeiro reveillon que eu passaria com meu primeiro namorado. Também me lembro quando nós dois cruzamos nossos olhares no salão e ele disfarçou, saiu andando rápido e desapareceu entre as pessoas de branco. Só encontrei com ele horas depois, enquanto ele corria os olhos furtivos pelo salão, tentando saber onde eu estava para não estar lá. Compreensível. Eu era uma espécie de versão branca, ofuscante e sem manga de Angus Young. Mas era um conjunto adequado, à época e ao evento, para minha idade. A pouca idade e pouca maturidade me impediam de questionar as decisões alheias. Me lembro que o primeiro reveillon que passei longe dos auspícios e olhares da mulherada da família, usei short jeans, uma regata branca de alcinha e bem cavada. Nada nos pés. Nunca mais me permiti passar dias e dias preparando meu shape para qualquer evento. Acho lindo as pessoas bem arrumadas. Principalmente as mulheres, ornadas com cautela em roupas bem alinhadas. Adoro quando saio encontrar minhas amigas e elas têm olhos simetricamente delineados, as roupas sem nenhum amassadinho. Mas não cobiço. Não dou conta. De verdade. E se você me encontrar por aí em um dia em que eu esteja muito arrumada, saiba que estou sob a roupa tem uma pessoa angustiada. Todos os outros dias estou completa