Faltando alguns dias pro meu filho Francisco completar quatorze anos, me perco em devaneios ao lembrar de seus assuntos sempre complexos, seus questionamentos cansativos, sua inventividade incansável e uma criatividade alimentada pelos seus sentidos o tempo todo. Sempre sério, imerso em concentrações e responsabilidades, este menino foi crescendo e me metendo medo de eu não ter assunto com ele, dada sua seriedade com as coisas da sua rotina. A interação mãe e filho é tão subjetiva, que se a negligenciamos ela se perde em futilidades. Porque para muitas de nós mães, os sentimentos de paixão, de beleza, de envolvimento, de medo, de apego, de necessidade são tão intensos, que se nos deixamos levar por eles, perdemos a química da interação. Somos engolidas por sensações tão redundantes, que o convívio acaba se simplificando nelas. Enquanto a personalidade do meu filho vai ficando mais clara- à medida que vejo ele crescendo e se expressando melhor quanto aos seus gostos e vontades, mais eu me envolvo em paixões e mais me derreto por ele. Tenho crises de risos divertidos cada vez que ele faz algo que jamais imaginei que faria -a própria comida, brigar com o pai, ficar bravo comigo. Acho lindo. Acho lindo vê-lo alto, acho lindo ele estudando alemão, acho lindo ele conversando com pessoas na rua, acho lindo quando pede pra eu fazer comidas que ele gosta, quando dorme até meio dia, quando me beija antes de dormir ou me pede pra escovar seus cabelos longos. Se preciso ou quero mostrar algo a ele e chamo – Filho!, ouço minha voz pronunciando esta palavra e me sinto a pessoa mais poderosa do mundo por ter conseguido sobreviver a todo o cansaço e trabalheira que significou para mim a sua infância. Não só sobrevivi mas comecei a pertencer cada vez mais a esta relação à medida do nosso convívio. Tem uma coisa na qual sempre penso: filho é um substantivo pelas regras da língua. Mas eu, cada vez que pronuncio e ouço Filho! saindo da minha boca, sinto como se estivesse expressando todo o amor que há na minha vida. Toda vez é assim. Toda vez.
Quatorze anos
