As linhas do Gabo

As linhas do Gabo

Ler não é um ato único, que se traduza de igual maneira por todos que lêem. Dar significado e sentido à sucessão de letras que se unem em palavras que se unem em frases, parágrafos longos, contos, crônicas, livros de entretenimento e a literatura tão minuciosamente costurada em críticas sociais ou memórias históricas. Há quase três décadas, enquanto cursava ciências sociais, me dei conta que ler ia além do meu costume de ter um livro de cabeceira que eu folheava e me encantava antes de dormir. Descobri que há livros que a gente estuda sentado numa mesa, fazendo anotações e referências cruzadas. E há livros que só se permitem ler em pé, andando de um lado para outro, tentando absorver e processar e entender e se curvar à realidade que se nos apresenta diante da leitura. Mas tem algo em comum que encontro em todos os livros e que tem a ver com o meu jeito de ler: o poder de me fazer sentir. Tem horas que a gente não tá a fim de conversa nem disposto a ouvir música. Muitas vezes não estamos compreendendo a vida ou, como nestes tempos pandêmicos, a realidade está dura demais. É aí que o livro tem um lugar especial. Ao menos a mim ele preenche. Pode ser aquele livro de filosofia pra estudar em pé e me recolocar nesta realidade tão cruel que tem sido viver no planeta terra neste milênio; ou um livro de memórias loucas e subversivas de jovens, que nos faz reviver momentos leves e festivos que já vivemos. Pode ser um CEM ANOS SE SOLIDÃO, que me faz navegar por sentimentos ímpares, num bordado tão potente e ao mesmo tempo delicado entre sonhos possíveis e devaneios. Tem sensações boas que sempre encontro nas linhas do Gabriel Garcia Marques. E elas se renovam a cada releiyura.