Das coisas que vivemos

Das coisas que vivemos

Onde reside o futuro? Ontem, enquanto pedalava e sentia o sol marcando minha pele em tons de rosa e vermelho, deixei meus pensamentos passearem pelo futuro que desenhei e que agora se desnuda no presente. Uns dias entre barulhos e sujeiras de obra, filas de cartório e reuniões de trabalho; chego no Domingo com a pele queimada do pedal, os olhos ardentes da poeira, um apê registrado no cartório e um curso de escrita pronto para adolescentes. Uma nova história em São Paulo vai tomando contornos e sinto a diferença de velocidade entre a vida que tive até pouco tempo e esta que veio do futuro, dos meus planos. Novos vínculos e responsabilidades vão se revelando na minha rotina. Me dou conta de que fui eu que escrevi este roteiro. Aceito e me alegro com a responsabilidade de ter feito escolhas. É bom valorizar cada escolha na vida. Se a gente deixar passar, fica a sensação de que estamos sendo engolidos sem ter sonhado, sem ter planejado. É um processo: vida é balanço. Se a gente se mexe demais e não para pra pensar, não criamos memória das coisas que vivemos. Se a gente se mexe de menos e pensa demais, não vivemos histórias das quais podemos criar memórias e aprendizados. Eu, num momento de limite do tédio e do medo, dei de frente com o horizonte de eventos da minha existência, lembrei de São Paulo e de planos do passado; lembrei de quando eu não tinha medo de as coisas darem errado. Eu quis esta mudança e encontrei todos os motivos para não ir. Mas o tédio de me ver parada deu mais medo que a sensação de me jogar no nada. Me joguei em São Paulo, que já sinto como meu novo lar. O futuro reside nos sonhos que realizo.