Um novo lugar, a mesma vida

Um novo lugar, a mesma vida

Toda mudança começa com uma vontade, um sonho ou uma necessidade. E quando começa o movimento em busca daquilo que está ali na frente onde planejamos estar, não tem passo que nos leve para trás; mas a vida que segue é a mesma. Sentada à mesa de atendimento, ajeitando questões práticas da rotina no banco, troco conversas amenas com o gerente. Antes mesmo de ele perguntar, explico que estou abrindo uma conta porque acabo de me mudar para esta cidade. As pessoas costumam usar adjetivos pejorativos para São Paulo quando digo que estou chegando aqui, mas ele foi afetuoso, me disse “todo lugar tem prós e contras” e me deu boas vindas. Tenho me vigiado bastante em relação às respostas que dou à pessoas sobre minha mudança. Me esforço para não usar “vida nova” nem “recomeço”. É uma tendência, uma reação automática que insisto em não ter porque não quero, de nenhuma forma, carregar alguma idéia de que minha vida tem algo oposto como antes e depois, velho e novo, de antes e de agora. A vida se renova, se adapta. Não é uma troca entre antes e depois, não é jogo entre velho e novo. Não consigo ver a mudança como uma ponte que a gente derruba para construir outra que vai passar sobre o mesmo rio. Seria ingenuidade minha pensar em substituir uma vida por outra. Eu sou esta vida que vivo desde sempre. Eu e minha vida seguimos sendo unidade da qual fazem parte, inclusive, as decisões sobre como seremos e estaremos ao longo dos tempos que passam. Não chego para uma nova vida. Chego para um novo lugar para viver a mesma vida, na expectativa de continuar sendo eu mesma num cenário diferente e tendo mais perto de mim pessoas que costumavam estar mais longe e mais longe de mim pessoas que costumavam estar mais perto. É um balanço, uma movimentação que, no fim, muda apenas a perspectiva da mesma vida que sempre amei viver.