Toda vez que vou pra Itapeva, minha terra natal, sinto uma certa dor que bate por dois lados. De um, a angústia da distância de raízes que me ajudam a explicar quem sou; de outro uma leve tristeza por sentir que a adaptação às mudanças positivas do mundo em sociedade andam, por lá, numa velocidade muito menor do que a que vivo nas minhas fatias de rotina aqui na minha vida em Vitória. A despeito das minhas preferências particulares, em Itapeva vivo momentos de pura delícia. Um deles, invariavelmente, é o convívio com minha sobrinha Valentina e a alegria de ouvir sua gargalhada, sua graciosidade, seu jeito de menina desafiadora, implacável, observadora e questionadora de um jeito que simplesmente me deixa cheia de alegria. Quando minha irmã me dizia que amava meu filho como se fosse parte dela eu não entendia bem. Mas a Valentina chegou… Nunca dei bola pra bebês, mas ela cresceu. Não tive o privilegio de sentir isso pelos meus outros dois sobrinhos filhos da minha irmã porque eu era quase criança quando nasceram. Mas a Valentina não. Ela chegou e eu já era adulta. Vivi o que minha irmã viveu com o Francisco, meu filho e sobrinho dela. Uma amor sem responsabilidade. E um amor leve. A Valentina é como uma aura de diversão. No cinema, grita de medo, grita de risada, tampa os olhos quando percebe que a cena vai ser tensa e depois grita de novo pra pedir explicação sobre a cena que ela não viu porque tapou os olhos. Faz xixi no shorts porque ir ao banheiro vai fazer ela perder tempo de vida quando está com o Francisco. Ela supera o fato de eu e o Fran não gostarmos de conversar por vídeo. Nem me cobra a ausência. Me chama de tia, como meus sobrinhos de Curitiba. Caio de amores. Às vezes me pego planejando o futuro dela como se fosse meu. Outras, vou ver preço de passagem aérea porque deu vontade de apertar o corpo magrelo dela num abraço quando entro na casa da minha mãe e ela está lá, no alto da escada da cozinha, esperando nossa chegada. Amanhã ela faz 9 anos. Nove. E eu só penso que não vejo a hora do nosso próximo sorvete na avenida Acácio Piedade
A Valentina
