Aquela tristeza mansa

Aquela tristeza mansa

Hoje, ao longo do dia, uma tristeza foi tomando parte de mim. Às vezes, quando a tristeza chega assim perto de mim, devagar, tímida, eu deixo pra ver o que acontece. E ela fica me rondando, me querendo, me sugando aos pouquinhos. É diferente daquela tristeza que chega com causa, que teve motivo claro. Como uma notícia ruim sobre algo que apreciamos, a perda de alguém que amamos, um desastre, coisas assim. Chega de sopetão e já nos abraça com força, tira nosso ar e temos que reagir a ela imediatamente. Em forma de choro, de revolta, de negação, colocamos a dor da tristeza arrebatadora pra fora. Mas esta tristeza mansa, que não causa dor, mas desassossega, ela é tão frágil e tão peculiar, que não tem como botá-la pra fora assim sem delicadeza. Eu não consigo. Costumo conversar com ela. Tentar entender o que a trouxe até mim, porque me procurou. Às vezes chego até alguma lembrança saudosa que passou despercebida pelos meus pensamentos enquanto eu fazia algum reparo pela casa. Em outras, coisas sem muita importância, algo que não consegui fazer ou que deu errado- um vaso de plantas que caiu com o vento, uma gravura que manchou com alguma umidade. Quando rememoro meu dia para entender o que me deixou cabisbaixa, me respeito e reforço a mim mesma que a alma nunca é tola. Pode ter seus caprichos, mas não é tola. Não faço de conta que nada aconteceu. Também não me comporto como se fosse o fim do pior de todos os dias. Gosto de grudar num livro e ler algo que me remeta a coisas que me deixem bem. Não é uma leitura de aprender ou estudar. Releio trechos que me invadem de sentimentos contundentes. Me reanima e me sinto preparada para um bom e tranquilo sono quando leio histórias que já conheço. Estas leituras me acolhem em corpo e alma. E eu adoro