Armadura de flores

Armadura de flores

Têm dias em que a falta de acertos na rotina me coloca a procurar na memória dias de acerto. Cada dia que a gente vive é um dia de acertos e erros. Independente do tamanho de cada um deles, sempre têm acertos e erros, coisas que fluem e coisas que enroscam. Hoje tive um enrosco. Um enrosco chato, daqueles que ficam martelando na cabeça e me põem no cansaço. Costumo me chatear mais com o efeito em mim das coisas que saem diferentes do que planejo. Sempre acredito que as coisas se acertam e se consertam. Não costumo me abater por achar que quando algo dá errado é o fim. O que me abate é o incômodo que sinto por não ter previsto. Hoje muito menos que quando eu era menos lapidada, digamos assim. Mas sinto. Numa reunião de trabalho tive uma negativa. Vida que segue. Sempre temos respostas negativas. Mas o tom com que ouvi a negativa me afetou negativamente. Vaidade. A idéia de que se gosto do que faço, todos vão gostar. A perspectiva que costumamos ter de que quando somos bons no que fazemos, vamos sempre acertar. Mas às vezes aquilo que fazemos não é de interesse de alguém. E na vaidade de quem acredita que pode seduzir a qualquer um, quando não seduzimos acabamos por imaginar (erroneamente) que não somos bom o suficiente. Já passou o impacto da reunião e me lembro agora, com certeza, de que a escrita que pratico com meus alunos é sim algo transformador. Me lembro do dia em que tive a primeira nota baixa na faculdade e chorei. Hoje enxergo como uma cena surreal- uma adulta chorando por uma nota de prova. Me lembro do dia tão distante quando não fui convidada pra festa de aniversário de uma coleguinha de esfola que eu adorava, de quando uma professora disse que minha letra era horrível. Só coisas que outros viam em mim e que eu não tinha como compreender o tom da reação delas em relação ao mim. Não tem como sempre tudo dar certo. Sabemos disso e nos cabe a responsabilidade de entender que há porque dar tanta importância aos enroscos. Quando não damos tanta importância a eles, aprendemos a nos remendar com carinho. Bordados coloridos ou uma bela armadura de flores, como a da minha amada prima Flávia. Quando deixamos fluir, a rotina nunca perde a beleza.