Olhando meu documento de aprovação no vestibular de 29 anos atrás, me dou conta de que hoje faz 29 anos que saí da casa dos meus pais para iniciar a vida adulta num ambiente diferente de tudo que eu havia pensado ou esperado. Nunca há preparo para as mudanças. A gente até se prepara, mas tudo que antecede a mudança, e que acreditamos estar nos adequando para o futuro, não é efetivo. É vontade. A vontade nos impulsiona, mas o que nos guia na caminhada, efetivamente, é a disposição para aprender, para partilhar, aceitar que tantas pessoas têm vidas tão mais interessantes que a nossa própria vida. Quando saí de Itapeva, acreditava que em quatro anos voltaria. Mas lá se vão vinte e nove. Aquela menina de 1993 ainda habita em mim. É um sopro, um fragmento tímido que aparece eventualmente nas memórias daqueles tempos. Mas minha risada é a dela. Se tem algo dela que se mantém firme em mim é a risada. Tem também uma ingenuidade, o lado romântico, o gosto por bater perna e conversar. Pensando aqui, acho que o que eu era em 1993 nem é tão fragmento assim. Nem é tímido. Nestes 29 anos abri mão de tantas coisas que julgava importantes para viver outras. E aprendi muito. Aprendi a cozinhar, a cuidar da casa, a tomar café, transar, ir ao cinema no meio da tarde, criar filho sozinha. Aprendi a ouvir, a olhar para a perspectiva do outro, usar a bike como meio de transporte, lavar roupa, fazer resumo, fazer resenha, economizar dinheiro, dormir junto com quem ronca, dividir a geladeira com onze pessoas, usar óculos de sol e boné, pegar carona na estrada… Só não aprendi a ser menos reclamona, impaciente e azeda. Mas isto nem quero aprender, porque foi sendo assim que conheci as pessoas mais interessantes da minha vida.
Estar disposto a aprender
