Sempre que encontro insetinhos passeando ou carregando coisas por aí eu paro para olhar. Um vai e vem sem fim. Aprendi com meu avô Bastião a observar coisas pequenas. Depois comecei a fazer paralelos. Adoro fazer paralelos de coisas de bicho com a vida de nós humanos. Comportamento, humor. É uma maneira bem interessante de a gente se olhar sem ficar comparando com outras pessoas. Eu gosto que as formigas têm pressa. Sempre e invariavelmente elas estão apressadas. Tenho a sensação que não percebem nada ao seu redor, como as pessoas que andam, aos milhares, pelas largas calçadas da Avenida Paulista. Eu gosto de andar devagar. Às vezes me desafio a andar muiiito devagar por lugares que conheço bem, só para observar detalhes que não tinha tido antes a oportunidade de notar. Faço isto no calçadão da praia, na quadra de casa. Às vezes, deitada na rede, olho para o teto, as paredes, procurando coisas que ainda não vi. Também faço isto em pensamento. Viajo por memórias, lembranças boas e ruins. É um tipo de investigação da vida. Eu gosto tanto de fazer isto. É um encontro com a gente mesmo. Como as formigas, que quando carregam coisas perdem um pouco o equilíbrio e às vezes perdem mesmo o rumo, nós às vezes carregamos coisas demais; noutras, carregamos coisas que não queremos carregar. E carregamos porque não paramos para escolher, porque estamos andando rápido demais e pegamos o que parece mais bonito ou que está mais ao alcance. Teve um tempo em que eu costumava ver o peso ou a pressa que outras pessoas tinham. Depois, me dei conta que eu deveria também ter meus pesos e meus passos apressados. Olhar o dos outros é mais fácil. Quando enxergamos em nós a pressa e o esforço, dá um susto. Mas aí começamos a nos livrar deles (se temos vontade, é claro). E dá pra olhar ao redor. Começam a surgir novas idéias, novos sonhos e vontades e caprichos Eu tenho um capricho, que é olhar em volta, olhar pra mim e procurar diversão. Ai aproveito e me pergunto o que trago em mim além de lembranças e saudades de tempos que já vivi?” A resposta? Curiosidade.
Curiosidade
