Dia desses, passeando pelas postagens de amigos, cheguei a um story que perguntou se eu sabia me apresentar aos outros sem falar com que trabalho. Eu gosto tanto deste tipo de provocação. Respondi prontamente. Contei que pratico essa resposta já faz alguns anos. Não foi fácil no começo e até hoje a reação das pessoas, ao me ouvir, surpreende. Normalmente insistem no “mas o que você faz?” No início eu acabava respondendo “sou Geógrafa”. A reação era espontânea: “você gosta de dar aula?” E eu: “Não sou professora”. E a pessoa não entendia e eu começava a explicar que existem bacharéis em Geografia e a conversa pendia, invariavelmente e tristemente para a ocupação ou para uma pergunta do tipo “você que é geógrafa, me responda: o Espírito Santo fica no nordeste ou no sudeste?” Com o tempo, aprendi a driblar a insistência dos meus interlocutores. Quando insistem no “mas o que você faz?”, eu respondo o que me vem na cabeça naquele momento. A resposta depende do humor. Varia de “canto no chuveiro”, “faço fofoca com as amigas”, “escrevo sobre as sensações boas que tenho quando entro em contato com delicadezas espontâneas”, até respostas do tipo “planejo como matar o presidente”, “leio livros do Valter Hugo Mãe”, “feijoada”. Responder sobre nós mesmos é um desafio. A prática de não se apresentar a partir da tríade profissão-estado civil- parentalidade nos dá a chance de diluir umas desnecessariedades. E… na pratica, uma resposta estranha alimenta curiosidade nas pessoas. Pra quem gosta de gente interessante, é uma estratégia e tanto. Pra quem gosta de se divertir com banalidades, também. Porque… vamos combinar… o que explica bem quem somos não é certidão nem carteira de trabalho. Quando falo “sou Geógrafa, tenho quase 46 anos, sou casada, tenho um filho de 13 e gosto de viajar e conhecer lugares”, falo quase nada de mim. Eu estou mesmo no “faço fotos de grilo, tomo banho com o celular dentro do box pra ouvir melhor a música, me implico com quem chama chinelo de chinela, faço de conta que não ligo pra casa suja porque prefiro usar o tempo da faxina pra fazer trança nos cabelos do meu filho”
A trança no cabelo do meu filho
