Do sentido de estar neste mundo

Do sentido de estar neste mundo

Das mais agradáveis e divertidas memórias afetivas que trago do meu pai… O dia em que ele me fez descobrir, já adulta, que o Paul Newman era um gato (ele se irritou com minha observação sobre isso). Me lembro que foi numa tarde, depois de levarmos o Francisco para conhecer a vó Ditinha. Chegamos na casa, fizemos pipoca e enquanto assistíamos a uma cena de Butch Cassidy, ele colocou a mão macia dele sobre a minha e disse algo como “é… Gordinha, tem filme que faz a gente pagar mico”. Porque ele chorava nas cenas de amor dos filmes. Sempre, invariavelmente, mesmo achando que isso é pagar mico. Foi adulta que descobri que meu pai era um sentimental e me senti menos estranha num núcleo familiar que sempre foi de pouca pele e emoção. Nós dois choramos e rimos juntos em muitos filmes. Não foi sempre assim. Eu e meu pai nos desfizemos de obrigações paterno-filiais quando cheguei na vida adulta. Um processo que nem sei explicar…Nos tornamos amigos. Era o único caminho para o convívio porque nunca soubemos ser pai e filha. Nunca funcionou. E com a amizade tivemos a chance de nos conhecermos melhor. Me alegro por ter tido tempo e disposição de aprender que é possível (e no meu caso, necessário) a amar um pai além da relação parental. Esse processo influenciou muito nas minhas escolhas (e influencia nas mudanças pessoais que constantemente busco). Me encheu de esperança em relação ao sentido de estar nesse mundo. Não tem uma receita para a gente dar sentido à vida… sabemos disso. Mas eu, pessoalmente, gosto de pensar em ingredientes como amizade, partilha, afeto e alegria. Meus preferidos. Quais os seus??