Memórias vêm todo janeiro

Memórias vêm todo janeiro

Dia 9 de janeiro de 2016 foi o dia em que tive a última conversa com meu Pai. Naquela naquela madrugada, que avançava para o nascer do sol do dia seguinte, falávamos da noçâo de Deus, assunto sobre o qual ele vinha se debruçando já fazia um tempo. Universo, espaço-tempo, linhas, nós, áreas, distorções, ínfimo, infinito e, junto/antes/sobre isto tudo, Deus. Estávamos ébrios da não pouca cerveja que havíamos tomado no casamento de um parente querido. Eu, sabendo pouco não só sobre as possibilidades de Deus, mas sobre a Astronomia que permite toda a poesia que é pensar sobre o inicio, mais ouvi e fiz provocações do que falei. Ele se irritava. De alguma maneira tentava se solidarizar da minha ignorância, mas acabava se irritando porque nunca me detive a estudar os trajetos racionais que permitem à matemática e à astronomia o pensamento sobre o universo. A beleza, para ele, estava na lógica do processo. Pra mim, na poesia das conclusões. Me atrevi a tentar construir mentalmente e falar a ele sobre uma vaga idéia de que o tempo pode se caracterizar como infinito ao ser condensado num buraco negro de espaço tendendo a zero. Uma licença poética minha que, por fim, o fez pensar com minha lógica. Uma provocação que ficou como pauta para um depois que nunca chegou. Naquela madrugada eu fiz esta anotaçâo que todo dia 8 de janeiro chega em meu celular. E todo 8 de janeiro faço um post falando disto porque gosto da mensagem que recebo. É como se, mesmo sem pedir, as palavras que soltamos naquele dia voltassem a mim depois de um longo passeio pelo vento. Quando perdemos alguém importante pra nós, o passar do tempo muda dilui a tristeza, apaga algumas lembranças e modifica a saudade. Esta saudade que sinto hoje é a mesma na intensidade, mas é diferente na sensação que causa em mim. A cada ano uma novidade neste sentir saudade. Sempre algo bom, mas sempre diferente o passeio pelas memórias que tenho de nós naquele último dia. Mas sempre saudade.