Sempre que vejo a gota do café pousando no meu copo, penso porquê não me lembro de quando nem como comecei a tomar café. Não sei quantos anos eu tinha nem sei se estava sozinha. Café, para mim, é bebida que não combina com criança; mas devo ter bebido pela primeira vez ainda muito novinha, já que não me lembro. Me recordo de beber café nos tempos de universidade, da minha faculdade de Física lá em São Carlos- meu café amargo, antes dos tempos em que tomar café sem adoçar virou moda gourmet. Não bebo em xícara porque sinto a asa como se fosse aquela pessoa que quando a gente abraça não consegue corresponder, comunicando silenciosamente que é para manter distância… Com o copo é diferente. Seguro com as duas mãos, entrelaço os dedos e deixo o calor tomar conta da pele e percorrer todo meu corpo. O copo é meu amigo: me aquece, me ouve, sabe tirar confissões secretas de mim. Beber café assim me acalma. É um recurso, minha meditação. E funciona bem quando está frio. Muito melhor. E eu, enquanto cavo aqui na minha memória quantos cafés aqueceram minha alma quando tive momentos de solidão e de solitude, costuro roteiros para os momentos de inverno frio que me esperam ainda. Não o frio metafórico, mas o frio mesmo, este que costumamos ver na previsão do tempo e que tem feito as pessoas da maior cidade da américa do sul se mobilizarem para tirar as cobertas dos armários e entregarem para quem não tem agasalho, não tem armário, não tem casa. Não é só café que aquece a gente. A solidariedade também esquenta. Não com um calor que entra com o gole do café esfumaçante; mas um calor que brota da gente quando alimentamos a fagulha do amor ao próximo, da consciência da desigualdade. Porque tomar consciência da nossa condição individual nos faz fortes e livres. Mas é quando tomamos consciência do nosso entorno, que temos a chance de sermos pessoas melhores e mais justas. Quando for tomar seu próximo café, pense nisto. Vale a pena, porque pensar em coisas boas também aquece a alma igual café, igual abraço, igual sonhar, igual planejar o futuro.