Ontem foi um Domingo vazio e preguiçoso. Deitada, lendo um livro chamado Nada, passei a tarde entre cochilos e bocejos, vagando entre memórias. A protagonista do livro vive na rua Aribau, em Barcelona. Então me lembrei que num livro que li de outra escritora espanhola, havia passagens pela rua Aribau. Desconfio que o livro se chame A Praça do Diamante. Nunca fui de guardar nomes ou datas ou lugares. Quando leio- e o mesmo acontece quando estudo- minha memória é de sensações e afetos. Anos- ou mesmo meses- depois, não saberei onde aconteceram as histórias ou em qual momento histórico; mas terei comigo todas as sensações que o livro me proporcionou. Como para tudo há uma exceção, me lembro de Macondo; porque ao ler Cem Anos de Solidão o nome me remetia a uma cobra- gigante, brilhante e que me levava para voar pelo mundo- com a qual sonhei algumas vezes na infância. E a rua Aribau me marcou porque quando a encontrei nos livros, já a conhecia. É uma sensação tão particular e alegre encontrar nos livros cenas em lugares que conhecemos… Pedalando por Barcelona, eu quis conhecer a fachada do Prédio da Universidade. E de lá, seguimos para o Parc Güell. O mapa nos indicou seguir pela rua Aribau e eu jamais me lembraria deste nome não fosse eu virar e perguntar “é aribáu ou aribô?”. Meu filho, Francisco, pequeno, sentado na cadeirinha presa à bike e até então absorto nas folhas que caiam das árvores, virou e disse “eu quelo, mãe!”. Não entendi. “Oi, filho?”. “Eu quelo, mãe!”. “Quer o que, filho?” “alibô”. A descarga afetiva daquele momento sedimentou instantaneamente na minha caixinha de memórias enquanto eu gargalhava. Eu jamais haveria de esquecer aquele nome. Na volta para o apartamento, passamos comprar Haribo num mercado da esquina. Compramos uma goma qualquer, que é a mesma coisa e então caminhamos enquanto comíamos as gominhas. Chegando ao prédio, dei a mão ao meu filho e subimos a longa escada até o primeiro andar. Não me lembro qual lado escolhemos. Mas me lembro que estávamos felizes.
Rua Aribau
