O Flecha viveu uma vida boa

O Flecha viveu uma vida boa

Ontem nos despedimos do nosso cão. Foi um Domingo tão triste. Quando o Flecha entrou para a família eu não tinha nem 30 anos, não morava no apê que moro hoje e sequer sonhava que um dia me tornaria mãe. Quando tomamos a decisão de ter um cachorro enorme dentro de casa, não sabíamos o preço da ração; nem que gostaríamos com hospedagem de férias para ele. Eu nem imaginava que um cachorro pudesse amar tanto os humanos e odiar tantos outros cães. O Flecha sempre foi um cão festivo à primeira vista, barulhento, folgado, mimado, espaçoso e um exímio ladrão de comidas humanas. Mas no dia a dia gostava de ficar sozinho, estirado em algum canto. Circulava o dia todo pela casa – deitava ao sol, sentia calor, ia para o chão frio, sentia frio, ia para o sol, sentia calor e assim assim… À medida que foi envelhecendo perdeu peso, perdeu a velocidade, o vigor. Mas dormia três dias seguidos para recuperar energia e então alcançar carnes, frios, pão, vitamina em cápsula, bolo, halls, kinder ovo, bolacha recheada… qualquer coisa que estivesse sobre a bancada. Foram dezoito anos de treino para desenvolver esta incrível habilidade de alcançar qualquer coisa sobre a bancada que pudesse ser mastigada. Se dedicou lindamente a ser companhia para meu filho Francisco. E me ajudou muito aqui em casa até que o Fran chegasse aos 2 anos- lambia todas as gorfadas e comidinhas que meu filho derrubava pela casa. O Flecha era meu limpador oficial de piso. Nos primeiros meses do bebê, se tornou um cachorro roliço de tanto que comeu as coisas q encontrava pelo chão. Aprendeu a empurrar o Francisco do sofá e nos acostumamos a ver o pequeno menino assistir tevê sentado no chão enquanto o cachorro tomava conta de todo o sofá. O Flecha viveu uma vida boa. Fez de tudo que sempre quis nesta casa. Sempre foi tratado como cachorro- ninguém aqui é adepto de humanizar cães. Fez muita coisa errada, tomou muito pito, teve muito de castigo na sua adolescência. Mas também teve seu reinado- dormia pelas camas, roubava nossa janta, bebia água no vaso sanitário, tudo que adorava. Teve uma vida tranquila e feliz. Vamos sentir tantas saudades…