O imparcial não existe

O imparcial não existe
Nas semanas em que consigo uma folga faço uso intensivo do Facebook e da mídia toda que entra na tela do meu computador. Esta semana, estirada no sofázão azulão, resolvi fazer uma busca rápida pelo google pra ver se eu conseguiria encontrar um guia de publicações imparciais.
Eu nunca, jamais, acreditei em imparcialidade; mas resolvi digitar na busca pra ver onde eu chegaria. Apareceram na minha pagina de busca o site da VEJA, do jornal O Globo e do Brasil 247. Que fofo… Tem gente imparcial neste mundo!!!!!!! (é uma ironia, ok?)
A imparcialidade, no nosso cotidiano, na nossa vida pessoal, nos nossos pensamentos, é algo vazio. Não existe imparcialidade e o melhor que podemos fazer para ter uma vida menos ordinária é ser parcial. Ser parcial é ter sonhos, é tomar decisões, ter crenças, expectativas- não tudo junto, necessariamente. Do que penso, coisa minha, tem-se misturado muito a imparcialidade com o não se posicionar. Mas o fato de não ter um posicionamento não significa que somos imparciais.
Viver é parcial, Digo viver no dia a dia, na rotina, em qualquer coisa que façamos. Somos parciais quando optamos por atravessar a faixa no sinal verde ou no sinal vermelho, quando reclamamos (posicionamento) ou não (sem posicionamento, mas no pensamento) do atendimento de um garçon; quando questionamos ou não os impostos, quando reclamamos ou não da maneira como a professora de natação dá andamento à sua aula, quando amamos ou odiamos a Anitta, quando entramos em desacordo sobre o que vamos comer no almoço, quando discutimos a educação que estamos dando aos nossos filhos.
Ninguém é imparcial. Ninguém MESMO. E que não me venham com Dalai Lama, com a Madre Tereza, com a Cora Coralina, o Fernando Veríssimo. Porque um dia desses alguém falava, no ponto de ônibus, que gostava de ler as frases do Veríssimo no Face porque ele é imparcial. Não é, não são, não foram. Ninguém é imparcial. Nem o Veríssimo, nem as pessoas que inventam frases dele para publicar na rede social.
Gente!!!! A graça da vida é ser parcial. A parcialidade contribui com nossa personalidade e, convenhamos, que graça teria uma vizinhança, uns amigos e uns familiares todos imparciais. Conversaríamos sobre quê? Sobre quem? Sobre quais?
Mas a imprensa…. eu estava querendo falar dela. E de nós. Ah! a imprensa…. Toda vez que acesso os textos pela internet, me vem à cabeça aquela música da Marisa Monte (ou seria do Roberto Carlos ou do Fábio Jr.??), como se a grife de notícia que estou lendo tentasse me acalentar, rebatendo a notícia do seu opositor: ” Esqueça se ele não te ama. Esqueça se ele não te quer. Não chore mais não sofra assim. Porque posso te dar amor sem fim. Ele não pensa em querer-te. Te faz sofrer e até chora. Não chore mais vem pra mim, vem. Não sofra, não pense.Não chore mais meu bem”
Eles pegam a gente pelo coração e, claro, pela nossa parcialidade. E acabamos vendo e sentindo apenas aquilo que queremos, como se tudo o mais fosse resto.
Acho que é um instinto de sobrevivência, de superação ao mau humor. Leio o que me agrada, logo existo. Mas se eu pensar, aí deixo de existir. Seria isto? Algo do tipo: Se penso sofro. Mas não posso sofrer porque sofrer está fora de moda. E a imprensa me joga isto todo dia!!! E a mídia sabe de tudo!!
Não!! Não vamos cair nessa. Não caiamos nessa!!
Ser parcial, como eu já disse, é ser menos ordinário. E, se for pra pensar em ser algo a mais pra nós mesmos, precisamos digerir a parcialidade como aquela coisinha construtiva que nos ajuda a pensar nas pessoas, em como somos diferentes e em como precisamos aprender a lidar com isso. E não é fácil, hein, galera? Aceitar que o outro pensa diferente, aceitar que o outro não quer e não precisa pensar como nós.
Mas tem um lado bom: ao sermos parciais podemos questionar a nós mesmos de vez em quando. E podemos aprender um pouco sobre como aceitar o posicionamento alheio, afinal, se eu sou parcial, o outro também pode ser. E se ele é parcial, pode ser que seja diferente de mim. e se somos diferentes, pode ser que tenhamos expectativas diferentes: a música da Copa não é a música do Ole Ole We all are One, #sqn. A música da Copa é a música do MCGuimê e do MCida!! Só que não. Eu vou ouvir Nerina Pallot enquanto faço os quitutes pra receber a galera em casa pra assistir aos jogos, #sqn.
Por sinal, o #sqn é a marca que mais amo nos últimos tempos. Eu odeio a Dilma, #sqn. Eu odeio a oposição, #sqn. Eu odeio a Copa, #sqn. Eu amo a Copa, #sqn. Eu odeio o Brasil, #sqn.
Vamos pensar no “só que não”, porque nós podemos pensar e repensar as coisas.
“Só que não” é a máxima expressão do ” pode ser assim, mas não é necessariamente”, “poderia ser assim, mas não é”. E eu tenho que aceitar, nós temos. Entre Hobbes e Rosseault, só me resta o sofrimento, porque a decisão seria difícil: um homem bom (adjetivo estranho), com idéias questionáveis ou um homem estranho (adjetivo bom), com uma teoria linda??.
Na prática, o que vale é não ser imparcial. Não importa se você vai se posicionar ou não. Ser imparcial é uma injustiça com nosso cérebro.
E venho eu novamente com a ladaínha do “Leia!”.
Leia. Leia tudo, leiamos tudo. Não vamos cair na história de um conto só. Um conto é um conto, e quem conta aumenta um ponto. Só todos os contos poderiam somar uma história, e mesmo assim não seria realidade.