A cada novo aluno, a cada nova aula que preparo para partilhar caminhos do pensamento, sinto a potência que a escrita tem sobre o encontro com nossas subjetividades. A vida não é rasa nem funcional. A vida é devir, é cotidiano, é encontro. O que vemos no espelho, as respostas que buscamos em silêncio, as angústias que ponderamos incontáveis vezes antes de partilhar com alguém em quem confiamos. A vida é a risada solta, o susto, o silêncio, o pedido de ajuda. É saber partilhar e calar, é fugir e encontrar. Somos bombardeados diariamente com os excessos brutais da perfeição e da felicidade; excessos que nos colocam no raso da nossa existência, que tomam de nós a beleza do pensar. O pensamento não é linear. É um emaranhado, um novelo de ruídos que agregam memórias, sonhos, medos e desejos. A escrita é o que nos permite organizar em ciclos, em círculos e espirais as experiências que vivemos no nosso solitário pensamento. Pensar é solitário, não requer lógica nem explicação; por isto não tem linearidade. A partilha é o que nos ajuda a organizar o pensamento. Conversa é partilha. E escrever é a conversa que temos com nós mesmos. Nos traduzimos a partir do emaranhado que se desenha no papel. O texto da escrita de si é um dicionário de subjetividades individuais. Não é a perfeição, não é a pressa, não é o acúmulo. É o íntimo do que somos enquanto estamos na nossa própria companhia.
Pensar e anotar é solitário
