Quem sou eu

Se

um dia eu fosse obrigada a me apresentar usando uma única frase de efeito, quatro palavras me definiriam: olho, penso, logo sinto. Nasci com fome de rotina, cresci escrevendo e me tornei uma adulta que se alimenta curiosamente de pequenos questionamentos e irritações cotidianas. Depois de quase duas décadas dedicada à pesquisa acadêmica, senti uma necessidade incontrolável de escrever sobre a minha rotina e meus próprios olhares e pensamentos. Isto porque um dia acordei pela manhã e me dei conta de que minha cabeça era um barril de pensamentos confusos, estranhos e banais— mas repletos de beleza, que foram adormecendo depois de anos e anos sendo negligenciados, deixados em segundo plano para que eu me dedicasse à leitura de teorias e projetos de e para os outros. Comecei, então, a escrever minhas crônicas e, ao lê-las, me via nelas. Era como se, mesmo sem querer, parte de mim se traduzisse através de cada frase. E é assim que escrevo, traduzindo caminhos por onde circulam os meus pensamentos cotidianos enquanto dou aulas de escrita, leio, vou à feira, pedalo, estudo, passeio pela tela de notícias do meu celular, troco dedos de prosa numa mesa de bar. Procuro, em minhas crônicas e reflexões, não deixar de fora nenhum dos personagens que fazem parte da minha vida, que se estende além da rotina e abraça sonhos, medos e memórias. O meu viver tem muitos personagens reais e imaginários e cada um, à sua maneira, tem participação naquilo que realizo, que me inspira, me fortalece e me tira do eixo. São estes personagens que trago até mim através da escrita. E os olhares e sensações que eles me permitem é o que busco levar até as pessoas, seja através da leitura de minhas crônicas, seja através do meu trabalho como professora de olhares e escritas— para que possam encontrar seus próprios personagens e caminhos. Me dedico a partilhar e ensinar estes olhares e escritas porque acredito que é através deles que conseguimos nos encontrar enquanto pessoas, entendendo que dar sentido à vida é conhecer nossos próprios sonhos e nossas próprias inspirações, sem sermos levados pela correnteza que são os nossos dias tão cheios de informação, de pressa, de coisas que muitas vezes nem nos agradam mas ainda assim nos dedicamos a elas porque não paramos para prestar atenção em nós mesmos.