Seja lá onde estivermos

Seja lá onde estivermos

O tempo passa e as crianças crescem. O inexorável. Olho pra estes meninos, amigos do Francisco meu filho, e me vêm à memória os tempos em que eram pequeninos e quando iam em casa eu precisava providenciar lanche, apartar discussões, pegar água quinze vezes consecutivas porque eles não alcançavam o bebedouro nem a torneira da pia. Me lembro que conversavam de assuntos aleatórios sem concluir, cada um falando a sua história sem que os outros ouvissem. E era um tal de procurar desenho na tv, assar bolo, providenciar papel e lápis, dar descarga e tentar participar de alguma brincadeira. Nunca fui de brincar. Nunca tive paciência pra isto. O que me alegrava de ter os amigos do Fran em casa era ouvir suas histórias. Crianças gostam de histórias. De ouvir, de contar e de inventar. Eles observam coisas com ingenuidade e nos contam sem travas, sem amarras. Traziam fofocas de suas casas, da escola, das professoras. Tudo sem o crivo do julgamento que nós adultos costumamos ter. Crianças têm olhos e pensamentos livres. Me amedrontava pensar que esses meninos cresceriam e suas responsabilidades poderiam lhe podar os olhos e os pensamentos. Não perdemos contato ao longo de todos estes anos apesar de estarem em escolas diferentes e rotinas outras que não a minha e do Francisco. Mas nos vimos cada vez com menos frequência à medida que as estações passavam. Ontem, ao encontrá-los todos juntos, no apartamento já vazio pronto para a mudança, fui inundada de uma alívio alegre. Cresceram, conversam com articulação, têm suas próprias histórias pessoais. E livres!. Apesar de estarem longe na rotina, o vínculo de amizade deles está ali, alimentado e fortalecido pelas memórias das coisas que viveram juntos. Ontem foi a primeira despedida em que chorei. Deitei pra dormir e desabei no choro. Não de tristeza, mas pela sensação intensa que é sentir a amizade fazendo parte da história deles. Algo como saber que a despedida do Fran não vai ser marcante só para o Fran que está indo, mas também para estes amigos que estão ficando. É uma parte nossa que fica aqui como registro de tantas alegrias que vivemos. E parte deles vai habitar nossas vidas seja lá onde estivermos.