A vida que vivemos não é exatamente como pensamos. O presente é um acúmulo de subjetividades que se fundem ao nosso humor, aos nossos amores, medos e vontades. Então nunca temos total controle sobre as coisas que escolhemos fazer. E não temos nenhum controle sobre o efeito de nossas ações sobre os outros e mesmo sobre nós. O passado, por sua vez, é um saco das memórias que guardamos, porque não lembramos de tudo o que aconteceu e costumamos guardar pedaços da vida que nos marcaram pro bem ou pro mal. Já o futuro, que é logo ali, sobre ele não há nada que se possa fazer a não ser ver o efeito das nossas escolhas e, eventualmente, mudar decisões inapropriadas quando se tem tempo. Estou aqui falando disso por admirar e respeitar o presente como sinônimo da nossa existência.
Desde que perdi meu pai e meu amigo Thiony, em 2016, venho pensando que viver requer duas coisas muito simples: primeiro pensar em nós mesmos e depois, só depois, conviver de forma que as pessoas com quem convivemos alimentem a alma de coisas boas na nossa presença e o mesmo aconteça conosco. E isso só da pra fazer no dia de hoje. Depois da perda dos dois, que já mexeu comigo, venho convivendo com a demência senil da minha mãe, que é uma espécie de perda, mas sem a separação da morte. Convivo pouco, mas cada vez que venho a Itapeva é fácil notar a desconexão progressiva da realidade. Ela está sempre com pressa, ansiosa, preocupada e com medo. Seus pensamentos estão absurdamente conectados com o passado e ela age como se sempre os outros estivessem dependendo dela urgentemente e a todo instante. Carrega pesos e responsabilidades que não existem e sempre está preocupada com o que pode acontecer ali na frente. Fazê-la desconectar desse círculo de tensão requer muita sorte para que um momento perfeito aconteça. E foi o que rolou nesta cena. A carinha dela ali cantando com os netos é uma raridade de ver. E dá uma alegria… Porque ela está ali vivendo O PRESENTE, alimentando a alma com a presença dos dois e fazendo o mesmo com eles. Tá fazendo o que aprendi com meu pai e meu melhor amigo. Coisa linda de se ver.