Sentamos ontem no sofá da sala. Eu e meu filho a organizar detalhes para o retorno às aulas. Um retorno diferente desta vez. Cidade nova, uma adolescência se firmando com o ensino médio. Sonhos tomando forma prática. Fazer a ligação entre o que sonhamos e a rotina para transformar os sonhos em algum tipo de conquista é um caminho que vai além das responsabilidades de agenda. Quando temos sonhos ou projetos, tratar a rotina das coisas que não gostamos – para viver o que queremos- requer apetite. Não um apetite voraz. Mas uma espécie de chama singela, um pêndulo que oscila entre o ingênuo e o incrédulo, que nos facilita compreender a necessidade de ponderar antes de decidir. E naquele momento, sentados no sofá para organizar documentos, percebemos que na nova escola, conhecendo novas pessoas, era o momento de configurar a foto e o apelido do whatsapp. Ele respirou fundo num suspiro longo. Pensou, pensou e decidiu que era o momento de fazer uma foto que combinasse com sua personalidade. “Nunca saio nas fotos como sou, mãe. Quando olho depois, não gosto”. Propus vários cliques, com poses. Ele aceitou. Foi a primeira vez que tive esta experiência de fotografá-lo assim. Uma fagulha de emoção em mim. Ele riu. Fez várias poses enquanto eu olhava seu rosto quase adulto pela tela da câmera. Concluímos nossa sessão de fotos e ele passou um tempo quieto ao meu lado, correndo os dedos pelo celular até escolher a que mais era ele. Então levantou, tomou banho, arrumou sua mochila, pediu instruções sobre documento, cartão de transporte, dinheiro. Estava incomodado em ter que usar a pochete que a mãe aqui insistiu que ele vai usar, mas organizou ali cartão, dinheiro, celular. Jantou, dormiu e hoje acordou e se arrumou para sair como se nada de novo estive acontecendo. A mesma carinha, a mesma preguiça, o mesmo sono matinal. Mas por dentro- eu sei, nós todos sabemos- carregando todos os sonhos do seu mundo.
Todos os sonhos do mundo
