Nestes dias de medos e uma sensação de insegurança desgastante, me deparo com memes e tento conter o riso porque o extremo que procura apagar minha posição política me causa tristeza, não ódio. Tenho vontade de acolher quem teve a capacidade crítica sequestrada pelo ódio. Mas ao mesmo tempo, sinto a necessidade de aceitar que são os próprios anseios individuais que permitem a perda de pensamento critico. Me lembro que há uns dez anos começaram a ser compartilhados nas redes textos, de poetas e escritores amplamente conhecidos, que eram alterados por quem os publicava. Eu usava parte do meu tempo para dizer “- este texto não é do Veríssimo; – esta frase não é de Fernando Pessoa”. Ali começaram os movimentos de fazer diminuir a importância de quem pensava, trabalha e escrevia um poema, um texto, uma música. “De que importa se não é do Gabeira? Eu gostei”. Começaram a dar autoria a quem não era autor, começaram a alterar a essência do trabalho de muitos autores, dando a eles créditos que não eram deles. Me lembro de uma postagem que dizia “não é abajour cor de carne, é abajour cor de carmim”. Viralizou a ponto de o Ritchie se pronunciar nas redes e dizer que era sim abajour cor de carne, que era uma metáfora para a cor do objeto e que carmim, antes mesmo de qualquer recurso poético, tiraria a cadência da música. Ele foi questionado, ridicularizado. Ele, Ritchie, o dono da música. Teve uma fase de frases de Umberto Eco, reproduzidas num estilo autoajuda por pessoas que nunca o tinham lido para entender da sua mordacidade. Fomos sendo idiotizados. Eco, em 2015, causou desconforto a muitos ao afirmar que não podemos nivelar liberdade de expressão com responsabilidade argumentativa. Sua afirmação ecoa até hoje. Principalmente porquê ele viu nas redes sociais a via mais rápida pra que devaneios tomassem posição de verdade . O meme do brasileiro tentando parar o caminhão com o próprio corpo poderia ser um tela com título “Homem desprovido de si”. Porque independente de onde esteja ou aonde esteja querendo ir, ele não sabe onde está nem onde deseja chegar. Um triste capítulo.
Um triste capítulo
